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Motorista Nota 10: meio século de idade e muita estrada

Sétima e última reportagem da séria especial Motorista Nota 10 traz a história de um “mineiroca”

Ao receber a ligação telefônica no horário combinado, estacionou o caminhão em um acostamento para conversar com segurança com o Setcemg. Humilde, possui uma maneira simples de falar. Curioso, concedeu entrevista como quem se sente lisonjeado por ter sido destacado como o melhor entre tantos outros caminhoneiros da empresa onde trabalha. “Fico agradecido e feliz. Vejo isso como gratificação. Estou honrado”, agradeceu de imediato Clayton Assumpção Gonçalves, o Motorista Nota 10 da Transportes IM. Há quase dois anos na empresa, afirma “só pretendo sair daqui se me mandarem embora. Quero terminar minha carreira aqui”.

“O segredo é gostar do que faz e procurar sempre fazer o melhor. Eu trabalho como motorista porque gosto da profissão”, afirma o caminhoneiro da IM Transportes.

Cinquenta anos de idade recém completados no último dia 15, Clayton tem muita história para contar (e muitas para viver). Já passou dificuldade, fez bicos, tomou calote; mas também foi muito ajudado, em especial pelos cunhados, conforme pontuou. Casou, descasou, namorou, viveu boemias na juventude e hoje, com seis filhos e três netos, guarda um ‘apertozinho’ no coração sobre fatos do passado – o tempo que não volta.

“Eu adoro a minha profissão, mas enfrentamos altos e baixos com a família. Quando mais novo, já fiquei 30, 60 dias longe de casa”, se abre o motorista da IM Transporte. “Se eu juntasse o corpo que eu tinha aos 18 com a mente dos 50 que tenho hoje, a minha vida estaria bem melhor”, afirma logo após deixar claro que não está a reclamar, mas apenas a falar sobre sonhos e vontades. E por ter este pensamento, repassa aos filhos seus ensinamentos e experiência. “Hoje tenho o coração aquietado, o que é bom na vida”, brinca.

Natural de Vassouras, cidade da Região Serrana do Rio de Janeiro, não possui o sotaque carregado. “Falo uai, sô, aquele trem. Minas é uma maravilha”, faz graça. “Nós, do interior, não temos essas gírias e sotaque [de carioca] não”, enfatiza. Essas adaptações de linguagem foi adquirindo, conforme conta, por ter trabalhado durante muitos anos em lavoura, ou seja, afastado das regiões mais próximas a capital do Rio. “Já estou acostumado com o sotaque [mineiro]”, afirma. “Sou neto de mineiros. Sou flamenguista e em Minas torço para o Cruzeiro”, enfatiza este carioca bem mineiro.

Casado há 18 anos com Márcia Pinto da Costa Gonçalves, também de Vassouras, eles vivem em São José da Lapa, região metropolitana de Belo Horizonte, há 12 anos. Não são todos os filhos que vivem com ele, porque são de outros relacionamentos. Ainda assim, sente uma grande gratidão ao ver o clima de fraternidade entre os irmãos, e de amizade entre as mães de seus filhos.

Caçula em uma família de oito filhos, Clayton possui parentes e irmãos em sua cidade natal. Não esconde a saudade que sente do clima serrano, da paisagem, dos pontos turísticos e da arquitetura antiga que compõe Vassouras. “Não adianta ter coisas boas na sua cidade se você não tem recursos para aproveitar. A necessidade me fez sair de lá”, constata.  Narra que os pais tinham fábrica de doce e alambique. Todos trabalhavam desde cedo, até mesmo nas lavouras. “Hoje você ganha bem, amanhã você não ganha nada”, compara a uma loteria a vida marcada e de muita garra com que a família empreendia os negócios.

Após tirar habilitação, começou a trabalhar com o cunhando Antônio em caminhão de truck. Depois de um tempo, aprendeu a dirigir carreta com o Luís Fernando, marido da sua irmã Miriam Gonçalves. Dos filhos, apenas ele e ela se mudaram para Minas Gerais.

“Aprendi a trabalhar com o meu cunhado. Considero o Luís Fernando um pai para mim”, fala com carinho e gratidão este homem que já viveu meio século.

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