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PREÇO DE COMBUSTÍVEIS CONTINUA DEFASADO APESAR DE REAJUSTE, DIZEM ESPECIALISTAS

Mesmo com o reajuste de R$ 0,15 no litro da gasolina nesta terça (19), os preços dos combustíveis da Petrobras continuam defasados, segundo especialistas do setor.

Segundo cálculo de Étore Sanchez, da Ativa Investimentos, o preço da gasolina vendida pela estatal está 7% abaixo do preço da gasolina internacional. Com relação ao diesel, o percentual de defasagem é estimado entre 11,4%, de acordo com a Abicom (Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis).

Thadeu Alves, chefe de petróleo e gás da FCStone, afirma que a postura da Petrobras de segurar os preços vem sendo mantida por um tempo maior do que o habitual. A estratégia, segundo ele, não faz sentido do ponto de vista econômico.

“Por razão de mercado não é. Se quer ganhar um market share, uma fatia de mercado maior, com abrangência maior, coloca abaixo, mas manter por três semanas a 15% abaixo não faz sentido no mercado”, disse Alves. Ele alertou que em alguns locais sem produção, como São Luís (MA), o preço do diesel está abaixo até do praticado no Golfo Americano, principal praça de importação e de onde o Brasil recebe a commodity.

“Se a Petrobras não mudar a postura atual, se o preço não voltar, vamos ter um impasse, porque ela vai precisar subir sozinha no mercado e vai entrar na situação do governo Dilma”, disse Alves.

Durante o primeiro mandato de Rousseff, entre 2011 e 2014, a determinação era que a Petrobras não fizesse o repasse da alta no barril de petróleo internacional para os preços de combustíveis praticados no mercado interno. Isso causou prejuízo bilionário à estatal.

A Abicom protocolou no início do mês um ofício no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) reclamando do que vê como prática predatória da Petrobras na política de preços. Sergio Araújo, presidente da entidade, afirma que a defasagem na Petrobras inviabiliza a importação e pressiona o setor de produção de etanol.

Segundo ele, a credibilidade do país pode ser abalada se a política de preços não for alterada, o que afastaria investidores, atrapalharia a geração de empregos e o desenvolvimento. “Já vivemos esta mesma história no início dos anos 2000, e o resultado não foi bom para o país, para a sociedade e nem para o refinador”, disse o presidente da Abicom.

Outro efeito do preço dos combustíveis diz respeito à inflação. O preço da gasolina compoe 5% do IPCA, principal índice de preços do país, com elevado impacto indireto sobre os preços de outros produtos, dado seu uso para transporte.

Nesse sentido, a desafagem de preços poderia evitar um impacto maior sobre a inflação, que encerrou o ano de 2020 em 4,52%, acima do centro da meta da inflação para o ano, de 4%.

Alves, porém, avalia que não há “nenhum indicativo, suspeita ou rumor” de que haja algum tipo de interferencia política na Petrobras para segurar os preços dos combustíveis com o objetivo de evitar o repassa para a inflação, apesar de existir esse efeito colateral benéfico.

O último reajuste feito pela Petrobras no preço da gasolina havia sido em 29 de dezembro, com aumento de 4% no diesel e 5% na gasolina. No mesmo período, o preço do barril do tipo Brent cresceu 8%.

De acordo com um levantamento da ValeCard, empresa especializada em soluções de gestão de frotas, o preço do litro da gasolina subiu de R$ 4,714 para R$ 4,805, uma alta de 1,91% na primeira quinzena de 2021.

De acordo com a pesquisa, a maior alta de preços ocorreu no Amazonas (4,73%), e a menor em Tocantins (0,8%). Nenhum estado do país registrou redução no valor médio do combustível. Os dados foram obtidos por meio do registro das transações realizadas de 1 a 14 de janeiro com o cartão de abastecimento da ValeCard em cerca de 20 mil estabelecimentos credenciados.

Procurada, a Petrobras afirma que tem compromisso com a prática de preços competitivos e em equilíbrio com os mercados internacionais. “Estão mantidos os princípios que balizam a prática de preços da Petrobras, como preço de paridade de importação (PPI), margens para remuneração dos riscos inerentes à operação, e nível de participação no mercado. Os reajustes são realizados sem periodicidade definida, de forma que a volatilidade das cotações internacionais e da taxa de câmbio podem não ser repassadas imediatamente para o mercado interno”, disse a estatal.

Segundo o Ineep (Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), o reajuste foi resultado da pressão do mercado privado sobre a Petrobras e visa viabilizar sua privatização.
Rodrigo Leão, coordenador do Ineep, vê com preocupação a pressão dos importadores. Na sua avaliação, os reajustes podem causar uma eventual volta da volatilidade dos preços no mercado interno.

“Com a privatização, a tendência é que o preço dos derivados aumente ainda mais. O projeto de petróleo que o país está seguindo é o de submissão ao mercado internacional, sem o mínimo debate sobre os interesses externos”, disse Leão.

Fonte: O Tempo

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